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Doutrinas neonazistas inspiram ações antipirataria

Cláudio Neves

Apesar desse nome - camcording - não ser corriqueiro, a prática por outro lado é bastante conhecida e seu produto pode ser encontrado no camelô da esquina mais próxima.

Tratam-se de gravações ilegais feitas dentro das salas de cinemas, para posteriormente serem disponibilizadas na internet, reproduzidas e até vendidas no comércio informal, mais conhecido como pirataria.

A Motion Picture Association América Latina (MPA-AL), escritório regional da Motion Picture Association (MPA), associação que representa os seis principais estúdios de cinema dos Estados Unidos e que realiza intensa campanha mundial contra a prática, divulgou que o Brasil registrou o primeiro caso de 'camcording' no país através do filme "Meu nome não é Johnny".

Apesar de no comunicado à imprensa a MPA-AL tenha explicado que a ação teve participação direta dos piratas, diferente do filme Tropa de Elite, que “vazou” de um laboratório de legendagem, isso não prova que Meu nome não é Johnny tenha sido a primeira vítima.

Ocorrência testemunhada
O longa de animação "Shrek Terceiro", antes mesmo do seu lançamento nos cinemas nacionais já circulava DUBLADO em português na camelotagem. Ainda assim isso não constitue evidência válida para afirmar seu pioneirismo como cópia ilegal através de camcording. Mas o que isso importa?

Importa que o combate à pirataria embora seja legítimo, na maioria das vezes seus promotores usam de táticas muito passionais, irrelevantes, freqüentemente ofensivas e irritantes, presumindo sensibilizar o público a não adquirir produtos ilegais.

Para se ter uma idéia, em relação ao Shrek Terceiro, por exemplo, certa vez um camelô localizado no Centro de Niterói (RJ), em frente ao maior shopping da cidade, colocou seu DVDs piratas num caixote e começou a gritar: "DVD Shrek três dublado na minha mão. Ainda não chegou no cinema".

Todos os camêlos tinham Shrek Terceiro, mas só o fato desse ter anunciado o produto em voz alta, várias pessoas pararam para comprar. Eram principalmente pais, mães e crianças afluindo para adquirir o que parecia ser um ótimo negócio. Não eram pessoas que pareciam oferecer algum tipo de 'ameaça' a sociedade.

Eram simplesmente pessoas comuns, em um dia normal, numa ação ordinária qualquer, erroneamente motivadas a investir uma pequena quantia num negócio que lhes pareceu a princípio útil. Especialmente porque conseguiriam, enfim, proporcionar algum divertimento a seus filhos.

Em um pequeno intervalo na afluência dos fregueses, um homem não identificado se aproximou colocou o braço sobre os ombros do camelô, e ordenou: "vem comigo para a gente conversar!".

Os dois caminharam até um carro parado próximo, onde se encontravam mais três homens. Diante deles o camelô explicava alguma coisa, gesticulava enquanto o homem que o havia conduzido revistava sua mochila. Parecia que aqueles homens dariam 'um passeio' com o sujeito, o ambulante, porém, foi liberado para voltar a vender seus DVDs normalmente, mas SEM GRITAR, ou anunciar os produtos.

Dito isso, pode-se inferir que aqueles homens eram policiais à paisana e fizeram vista grossa? Pouquíssimo provável, pois se alguma operação policial antipirataria estivesse em andamento o camelô certamente teria sido preso. A conclusão mais fácil é que se tratava dos operadores do esquema ajustando a conduta de um de seus vendedores para que o mesmo não acabasse "queimando" o ponto de venda.

Mas sejam quem fossem os envolvidos, vale ressaltar que apesar da gigantesca movimentação de pessoas no local por ser a entrada de um shopping, de uma grande rede de supermercados, além de ser um ponto de ônibus para o Rio de Janeiro, e de vans com destino à várias regiões do leste Fluminense, e a saída das Barcas que trazem diariamente milhares de pessoas vindas da travessia pela Baía de Guanabara, ninguém, mas ninguém mesmo, além deste observador, percebeu a ocorrência.

E porque não a viram? Talvez por ser um fato corriqueiro demais para alguém se importar com isso. O que nos leva a conclusão que a pirataria também se tornou corriqueira demais para o cidadão comum chegar a se importar com os apelos da indústria do entretenimento. Especialmente porque as campanhas antipirataria desrespeitam a inteligência do público, são desonestas na medida que lidam com meias-verdades.

Campanhas agressivas
Não se trata de justificar as ações de quem fomenta o comércio marginal (lei tem que ser cumprida), e sim de conhecer o contexto das pessoas, suas prerrogativas e grau de consciência do mundo a sua volta. Mais do que isso, saber se reposicionar no mercado em vez de ficar fazendo generalizações absurdas e criminosas.

Por falta desses procedimentos, a indústria continua produzindo campanhas inúteis, agressivas, e que produzem mais revolta contra o regurgitar incessante de impropérios a respeito do caráter de quem passa na banquinha do camelô e leva sua música predileta para casa, ou faz download da internet.

As propagandas antipirataria, relacionam o cidadão comum ao tráfico de drogas. O ex-presidente norte americano George Bush (a personificação poderosa da mediocridade) certa vez relacionou essas pessoas a terroristas. Apareceu nesse dia um de seus conselheiros sem noção, sugerindo o uso de mísseis para atingir a casa dos comerciantes piratas em todo mundo.

Tática neonazista
Recentemente nos EUA, um homem foi processado pela indústria fonográfica porque teria copiado para seu computador duas mil músicas, retiradas de seus próprios DVDs, adquiridos LEGALMENTE. O réu em questão não comercializou nada, apenas armazenou em outro lugar as canções pelas quais pagou.

O absurdo dessa situação revela como alguns supostos prejudicados pela pirataria adotaram a estratégia neonazista e o modus operandi de mafiosos. Neonazista por reproduzir uma variante da doutrina de Hitler no que tange à rotular com estereótipos pessoas que nada têm a ver com a pirataria, discriminá-las, acusá-las, criminalizá-las (sem ter ocorrido crime), difamá-las, além de fazer propagandas na mídia sobre um regime impiedoso que faz, subjetivamente, apologia à discriminação. Se insurgem portanto contra os direitos fundamentais das pessoas.

Legalidade para todos
Se os operadores do combate à pirataria pretendem lograr êxito nessa luta, não podem cumprir a lei somente quando isso lhes favorecem. É preciso trazer legalidade para suas ações. Ou seja: jamais atingirão seus objetivos se cairem na esparrela de usar as mesmas táticas de quem estão combatendo. Não se pode fazer jogo sujo e presumir que isso produzirá justiça, respeito às leis, e relações de consumo mais justas. Apelar para sentimentalismos baratos, e esperar a adesão em massa da população é tolice. Qualquer insensatez pronunciada por um participante do Big Brother seria levada mais a sério.

Isso quer dizer, por exemplo, que não se deve usar os trailers dos cinemas para emplacar uma campanha antipirataria, com filmes mostrando uma relação não totalmente comprovada do tráfico e consumo de drogas, com o ato de um pai ou uma mãe que compra um "CDzinho" (talvez o único) para seu filho.

Estratégia descabida
A reação mais comum da platéia, é dar risadas. A galhofa aqui é um claro desdém pelos conceitos e idéias engendrados pela indústria do entretenimento que tem diante de si, dentro do cinema, um público pagante, que entrou ali para assitir uma exibição autorizada e é chamado na cara de LADRÃO, TRAFICANTE, E PIRATA. Xingam seus potenciais aliados e depois ainda têm o desplante de esperar deles apoio ao combate à pirataria - que em termos práticos e imediatos, não lhes traz benefício algum.

No entanto os verdadeiros ladrões, traficantes, e piratas estão lá fora traficando, roubando, e pirateando sem tomar conhecimento dos comerciaizinhos pseudos-intelectuais dos que estão lucrando um pouco menos. Isso compromete até a reputação dos profissionais que atuaram na produção de tais comerciais, e do "gênio" de marketing responsável pela divulgação de tais peças publicitárias.

Atacar o verdadeiro problema
O certo seria - se de fato a única coisa a ser combatida fosse realmente a cópia ilegal - investir mais na seguinte informação: DVD pirata, especialmente obtido através de camcording é um lixo. Durante a gravação aparecem sombras de pessoas passando, gargalhadas e esbarrões que tiram a câmera de foco ou de enquadramento. Assistir a um achincalhe desses é desrespeitar a própria inteligência.

Além dos mais, já deu para notar pela posição da câmera que faz a cópia ilegal, que os camcordings brasileiros são feitos a partir da sala de projeção. Daí mais um indício de que os piratas não estão entre o público pagante e sim entre o próprio mercado do entretenimento.

Mordendo a mão que alimenta
Sendo assim, seria mais coerente a indústria do entretenimento olhar para seu próprio umbigo e fiscalizar suas salas de projeções, em vez de ficar desrespeitando os cidadãos que andam dentro da lei. O máximo que vão ganhar com isso são novos inimigos, que as vezes nem estão interessados em praticar a pirataria, mas passam a fazê-los só para devolver a afronta. Informar que a pirataria é crime, não sendo específico em que situações a cópia seria considerada ilegal pela Justiça, equivale a dizer que "o céu é azul". Não passa de simples opinião, nada mais.

Apelos tolos
Dizer que pirataria tira o emprego das pessoas também soa tosco. Isso porque prevalece o raciocínio que, se tira o emprego formal de uns, proporciona por outro lado um meio de vida informal para centenas de pessoas à margem da sociedade. Culturalmente falando o brasileiro tem a tendência de ficar inclinado aos arrulhos da Síndrome do Pobrezinho. Coisas do tipo: "Tadinho, ele faz isso ou aquilo porque é pobrezinho". Ou justificam ainda: "Faço isso porque estou trabalhando!". Assim sendo, dizer que a pirataria destrói empregos qualificados soa melodramático e patético.

Fazer comparações maniqueístas do tipo bom-mau, enquadrando e classificando atitudes e pessoas pelo que elas fazem ou deixam de fazer é notoriamente fútil. Determinar que é bom comprar cópia legal e mau comprar pirata, ou que pessoas boas se envolvem apenas com comércio legal, não faz qualquer sentido.

Esse é o tipo de apelo que encontramos e locadoras de DVDs em banners aonde aparecem um smile com cara de anjo e outro com cara de demônio para definir as práticas da pirataria. A mensagem é perceptível, embora discutível.

Ações para o futuro
Repressão ostensiva à pirataria, com prisões e tudo mais, tem melhor resultado quando se trata de grandes esquemas e carregamentos. Que não esperem alegados efeitos psicológicos, e a suposta disseminação do medo entre piratas eventuais, pois sabemos que isso não ocorre.

Não adianta chorar o leite derramado. As empresas somente superarão a pirataria com o avanço da genialidade. É uma questão principalmente de inteligência comercial. Chegamos a 2009, e a primeira década do século 21, está pertinho do fim, já não passou da hora dos produtores amadurecerem suas estratégias?

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