Invenção do rádio é atribuída a brasileiro

O padre Landell de Moura, considerado o verdadeiro "pai" das telecomunicações teria sido o inventor do rádio, e não o físico italiano Guglielmo Marconi

Guglielmo Marconi (esq.) e Roberto Landell de Moura
Muitos já ouviram falar na disputa entre o brasileiro Santos Dummont e os americanos Irmãos Wright quanto a quem teria criado o primeiro avião da história. Entidades internacionais e a própria história reconhecem o brasileiro como pai da invenção.

Disputa
O que pouca gente sabe é que o Brasil disputa com outro país, a Itália, o título de terra natal do criador do rádio, umas das maiores invenções do século passado. Nesse caso, os italianos levaram o reconhecimento oficial.

Mobilização
Mas, em 2009, um grupo de brasileiros criou o Movimento Landell de Moura (MLM), para sensibilizar a população e autoridades do governo em relação à importância do padre gaúcho para a ciência.

Selo
Os Correios já reconheceram o legado de Landell de Moura e lançaram, neste ano, selo comemorativo aos 150 anos de nascimento do padre.
Réplica do Transmissor de Ondas, construida por Marco Aurelio Cardoso Moura em Maio de 2004.
"Pai" do rádio?
Dizem as páginas dos livros de história que um físico italiano então com apenas 20 anos de idade transformou, em 1894, o celeiro da casa onde morava, em Bolonha, num grande laboratório. De lá teriam saído teorias e experimentos que ajudariam a criar algumas das maiores invenções do mundo moderno no campo das telecomunicações. O inventor em questão é Guglielmo Marconi, considerado mundo afora como “pai” do rádio.

Telégrafo
O jovem italiano é aclamado como inventor do primeiro sistema prático de telegrafia sem fios, em 1896. Marconi baseou-se em uma série de estudos apresentados em sua época para conseguir realizar aquela que é considerada a primeira transmissão de dados sem fio.

Código Morse
Depois de verificar que havia pouco interesse por suas experiências na Itália, Marconi decidiu, em 1896, ir para a Inglaterra. Em 1899, teve sucesso na transmissão sem fio do código Morse (uma combinação de pontos e traços).

Sucesso
Dois anos mais tarde, conseguiu que sinais radiotelegráficos (a letra S do código Morse), emitidos da Inglaterra, fossem escutados claramente no Canadá, atravessando o Atlântico Norte. A partir desse experimento, Marconi fez muitas descobertas básicas na técnica rádio.

Landell descobriu primeiro
Mas enquanto Marconi transmitia sinais em código Morse, um padre brasileiro, nascido na capital gaúcha em 1861, foi além. Roberto Landell de Moura transmitiu a voz humana através de ondas eletromagnéticas (isto é, o rádio tal e qual conhecemos hoje em dia) ou de um feixe luminoso. Ao usar a luz para transmitir dados, o padre brasileiro colocou em prática o princípio básico do laser e das fibras ópticas, tecnologias que só foram desenvolvidas muitas décadas depois, a partir de 1980.

Em 1900
O jornal O Estado de S.Paulo noticiou que, em 1899, Landell de Moura transmitiu a voz humana a partir do Colégio das Irmãs de São José – atual Colégio Santana, na zona norte da capital paulista. Também efetuou demonstrações públicas de seu invento no dia 3 de junho de 1900, que foram noticiadas pelo Jornal do Commercio de 10 de junho de 1900. Veja abaixo a notícia:
Notícia do Jornal do Commercio, em 10 de junho de 1900
Descaso no Brasil
O sucesso dos experimentos do padre Landell não teve boa acolhida por parte das autoridades brasileiras daquela época. A população também não demonstrou apoio às invenções revolucionárias do padre.
 
Ignorância
Certa tarde, ao retornar da visita a um doente na cidade de Campinas, encontrou a porta da casa paroquial arrebentada. Seu laboratório e todos os seus instrumentos estavam completamente destruídos. Landell era visto como "herege", "impostor", "feiticeiro perigoso", "louco", "bruxo" e "padre renegado" por seus experimentos com transmissões de rádio. Isolamento e indiferença foram o pagamento recebido por sua posição vanguardista.

Doação
Desiludido com a possibilidade de conseguir apoio no Brasil, Landell de Moura enviou, em junho de 1900, uma carta manifestando sua vontade de doar seus inventos ao governo britânico. Em 1905, ao retornar ao Brasil após uma estada de três anos nos Estados Unidos, ainda teve fôlego para escrever uma carta ao então presidente da República, Rodrigues Alves.

Incompreensão
No documento, o padre pedia ao governo brasileiro a cessão temporária de dois navios, para demonstrar os seus inventos que revolucionariam a comunicação. Mas o país desperdiçou a chance de liderar uma revolução nas comunicações: o assistente do presidente Rodrigues Alves preferiu interpretar as ideias de Landell como maluquices e o pedido foi negado.

Landell não conseguiu financiamento privado ou governamental para continuar as suas pesquisas nem para construir equipamentos de rádio em escala industrial.

Guerra de patentes
Em 9 de março de 1901, Landell de Moura registrou a patente brasileira para suas criações. Alguns meses depois, viajou até os Estados Unidos e, em 4 de outubro de 1901, deu entrada no The Patent Office of Washington, DC - o escritório de registro de patentes - pedindo privilégio para as suas invenções. Em 11 de outubro de 1904, conseguiu a patente para um transmissor de ondas. Em 22 de novembro do mesmo ano, foram concedidas as patentes para um telefone e um telégrafo, ambos sem fio.
Memorial Descritivo (folha 1) da Patente Brasileira de Landell de Moura, de 9 de Março de 1901.
Patente americana. Transmissor de Ondas registrado nos Estados Unidos em 11 de Outubro de 1904.
Repercussão
Na mesma época, nos Estados Unidos, o jornal "The New York Herald" publicou uma grande reportagem sobre as experiências desenvolvidas sobre transmissão de sons sem uso de aparelhos com fio. A reportagem abordava as descobertas de Landell de Moura, apesar de deixar claro que seu nome não era conhecido entre os grandes cientistas daquele tempo.

Provas
Landell deixou manuscritos que provam que, em 1904, quando ainda estava em solo norte-americano, projetou a transmissão de imagens (televisão) e textos (teletipo) à distância, sem fios. "The Telephotorama” ou “A visão à distância" foram os nomes sugeridos pelo padre para o aparelho que hoje conhecemos como TV.

Reparação
“Padre Landell é um pioneiro das telecomunicações. Marconi inventou o telégrafo sem fio e não o rádio. Porque o rádio é voz, sons musicais. E o telégrafo era transmissão de sinais em Código Morse.” A afirmação é do jornalista e escritor paulista Hamilton Almeida, autor de quatro obras sobre o padre Landell – sendo uma delas editada na Alemanha.

Movimento Landell de Moura
Em parceria com outras pessoas que acreditam na luta pelo reconhecimento das invenções do padre, Hamilton ajudou a criar, em 2009, o Movimento Landell de Moura (MLM).

A intenção do movimento é mobilizar cada vez mais pessoas, com ajuda da internet, para recolher assinaturas e sensibilizar as autoridades do governo em relação ao reconhecimento das criações do padre gaúcho. “Queremos reparar uma injustiça histórica cometida contra um genial inventor brasileiro”, defende o autor. 
 
O site do movimento www.mlm.landelldemoura.qsl.br já conseguiu reunir cerca de quatro mil assinaturas no abaixo-assinado eletrônico.
Selo lançado pelos Correios em janeiro deste ano, em comemoração aos 150 anos de nascimento do padre Landell
Apoiadores
Desde sua criação, o MLM ganhou apoio de entidades de imprensa, como a newsletter Jornalistas & Cia, e do Governo Federal, como os Correios. Neste ano, a empresa lançou um selo comemorativo aos 150 anos de nascimento do padre Landell. O Instituto Histórico e Geográfico do Rio Grande do Sul e a Prefeitura Municipal de Porto Alegre já se manifestaram favoráveis ao movimento. “Também já conquistamos a simpatia de instituições de ensino como a FAAP, a PUC-RS e a USP”, comemora Hamilton.

Reconhecimento
Para o ministro das Comunicações, Paulo Bernardo, as criações e o trabalho do padre devem ser reconhecidos no Brasil. “Tivemos um grande inventor em nosso país, mas infelizmente ele não foi valorizado como deveria em sua época, pela falta de interesse do próprio governo e também pela ignorância da população, que não via com bons olhos as experiências do padre Landell de Moura”, avalia o ministro.

Paulo Bernardo reforça que o Ministério das Comunicações apoia o reconhecimento do padre como inventor do rádio e acredita que o Movimento Landell de Moura é uma iniciativa importante na divulgação dos trabalhos e da história do inventor: “Precisamos trabalhar para que o padre Landell seja verdadeiramente reconhecido pelos brasileiros como o pai do rádio e pelas contribuições científicas que deu ao mundo moderno. Acredito que a atuação do movimento é importante para alcançar esse objetivo”.
 
Dia de Adesão em Massa ao MLM
No próximo dia 30 de março, o MLM promoveu o Dia de Adesão em Massa, iniciativa que contou com o apoio e divulgação da Prefeitura Municipal de Porto Alegre e outras instituições gaúchas. Segundo o jornalista Hamilton de Almeida, ainda não há uma data definida, mas a ideia é fazer a entrega do abaixo-assinado às autoridades federais, nos ministérios da Educação e das Comunicações, além da Presidência da República.

Pai das telecomunicações
“Landell projetou a televisão e o teletipo antes de outros cientistas e foi um dos precursores do controle remoto pelo rádio. Esses fatos, todos documentados, além de todas as suas descobertas, justificam que esse padre-cientista seja conhecido pela maioria dos brasileiros, o que não é a realidade atual. Para que isso aconteça, o governo precisa reconhecer os méritos científicos do padre Landell, assim como fez com Santos Dumont, que é considerado o pai da aviação. Esse reconhecimento será pleno no dia em que Landell figurar no currículo escolar obrigatório”, avalia Hamilton.

Esquecimento
Roberto Landell de Moura faleceu de tuberculose aos 67 anos, no anonimato científico, no Hospital da Beneficência Portuguesa em Porto Alegre.

Referências
Para saber mais sobre o padre Landell de Moura e sua obra, os autores deste texto recomendaram a seguintes leituras: 

ALMEIDA, B. Hamilton. O outro lado das telecomunicações: a saga do Padre Landell. Porto Alegre: Sulina/ARI, 1983.

ALMEIDA, B. Hamilton. Landell de Moura. Porto Alegre, Ed. Tchê Comunicações. 1984.

ALMEIDA, B. Hamilton. Pater und Wissenschaftler: Die Geschichte des Paters Roberto Landell de Moura. Konstanz: Debras Verlag, 2004.

ALMEIDA, B. Hamilton. Padre Landell de Moura: um herói sem glória. Rio de Janeiro: Record, 2006.
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(Crédito: este texto foi replicado na íntegra sob uma licença CC-by-sa-2.5, conforme instruções de uso divulgadas pela fonte. A licença CC by-nc-sa 3.0 utilizada neste blog é válida, neste caso, apenas nas partes concomitantes.)


Fonte: Conexão Minicom - A Revista Eletrônica do Ministério das Comunicações.

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