Artigo: Em testes de software o investimento não começa do zero

Roberto Murillo*

Dentro da infinidade de temas existentes no mundo da Tecnologia da Informação, dizer que a disciplina teste de softwares já adquiriu maturidade mercadológica não é mais propriamente uma novidade.

De uns anos pra cá a matéria, sustentada pelo binômio “funcionalidade – confiabilidade”, evoluiu de tal maneira que hoje já ostenta metodologias e certificações profissionais específicas como reflexo de uma demanda corporativa que vem priorizando, sobretudo, a qualidade do produto entregue a seus consumidores. Afinal, que empresa em sã consciência não investiria antecipadamente em medidas para corrigir o software que criou – mitigando os indesejados bugs - e que em breve será utilizado em larga escala?

Dada sua importância, é irrefutável a afirmação de que toda e qualquer empresa que desenvolva um sistema de informação, por mais simples que seja, realiza testes. E para que estes garantam o padrão de qualidade esperado, obviamente que deve haver por trás investimentos em tecnologia infra-estrutural e na capacitação da mão-de-obra envolvida. Até porque de um único teste são decorrentes inúmeros resultados e diagnósticos que vão aferir a qualidade do produto final – o software. Caso contrário, a efetividade destes resultados é colocada em xeque.

Entretanto, venho percebendo, não de agora, que muitos executivos acabam por injetar vultosas quantias na produção do software em detrimento do teste em si, sob a justificativa de que não há estrutura nem tampouco recursos para fazê-lo.

Mas atrevo-me a dizer que há um grande equívoco na leitura que fazem de suas próprias corporações. Isso porque estes empresários não estão conseguindo visualizar que suas companhias já são compostas pelos vértices do chamado triângulo mágico que o desenvolvimento de um software pressupõe, quais sejam, tecnologia, pessoas e processos, entre os quais o teste está necessariamente incluso. Ou seja, o dinheiro, a tecnologia e a infra-estrutura responsável pela produção do produto-fim já existem, assim como o teste que é parte integrante do ciclo produtivo.

Apesar de todo este investimento, muitos destes desenvolvedores de softwares passam pelo constrangimento de amargar erros sistêmicos que persistem em prejudicar os resultados da produção. Mas então o que há de errado nisso tudo?

Não tenho dúvidas de que estamos diante de uma má aplicação de recursos. Se houvesse uma distribuição mais equânime do dinheiro entre os pontos-chave da cadeia de produção do software certamente haveria uma redução na margem de erros detectados. E refiro-me aqui a investir melhor nas três áreas que constituem o desenvolvimento de software: profissionais qualificados, processos formalmente estruturados – inclusive a fase de testes – e a tecnologia empregada.

A ausência de um fluxo sistemático de processos e a falta de processos institucionalizados ou ainda a pouca capacitação dos profissionais que sejam focados em testes são os verdadeiros motivos que derrubam a efetividade dos resultados alcançados e, por conseqüência, afetam a qualidade do aplicativo em questão. Além disso, geram retrabalho que onera ainda mais a cadeia produtiva.

Assim, se uma empresa de TI que busca uma saída inteligente e segura que minimize os erros do software por ela criado deveria repensar na forma como vem aplicando seus recursos. Afinal, desajuste nos investimentos implica gastos desnecessários e comprometimento da qualidade na entrega final, que por sua vez significa desvantagem competitiva. E realocar o orçamento não quer dizer começar um novo investimento do zero, até porque o aparato organizacional já está lá disponível. A idéia é buscar meios de profissionalizar a área de testes para não incorrer nas mesmas falhas de sempre. Comecem a refletir desde já tecnólogos!

* Roberto Murillo é sócio-diretor da RSI Informática.

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